terça-feira, 26 de junho de 2007

domingo, 10 de junho de 2007

Do Palavras Tortas

Fênix
(Com apresentação da própria Li)



Letra, de minha autoria, que ganhou o 3º lugar num festival de Ouro Preto, cantada por Jane Duboc, e um 1º lugar no festival de Juiz de Fora, cantada por Clarisse Grova, em 1982 (tô véia... tsk, tsk, tsk...)

Depois da fúria de um furacão
depois do fogo de uma paixão
ardente
qual lavas de um vulcão
entre os escombros
pode haver vida latente

Cuida da terra qual lavrador
rega com amor o seu coração
descrente
que ao sol da manhã
entre ruínas
germinará a semente

Grita se for preciso
tenta achar a saída
que a esperança perdida
vai renascer

Cuida da terra qual lavrador
rega com amor o seu coração
descrente
que ao sol da manhã
entre ruínas
germinará a semente...

quarta-feira, 2 de maio de 2007

'Viver é ter contrastes'



Certas noites

Certas noites eu navego
vou ao léu
ao encontro do céu
certas noites eu me entrego

Certas noites eu naufrago
bebo o breu
que pinta o céu
certas noites eu me afogo

Mas volto à tona,
volto à flor d'água
sou marinheira
de mil viagens
solto meu canto
volto sereia
deslumbro
encanto
fascino
seduzo
atraio
cativo
enredo
engano
desfaço
maltrato
tiro o compasso...



O chat caiu

Tua ligação cai em meio a um chat e eu fico desamparada, me sentindo abandonada, sozinha, descompensada. Amaldiçôo a Telerj, os pulse, os tones, fax, modems, Embratel e Graham Bell. Saio da conexão, te ligo. Ocupado!!! Ocupado!!! E sinto no meu peito um aperto, um mal parado... Vou à cozinha, abro um vinho e decido me embriagar! O que sobrou na garrafa, nem para um copo me dá. Penso, inteiramente desesperada: "Só tenho duas saídas: suicídio imediato ou nova conexão!!!" Como sempre fui dramática, tento a segunda opção! Volto pra minha telinha, que aos meus olhos nublados, tristonhos e desvairados tem forma de coração. A tela é um imenso Norton Desktop Coração!!! Pela enésima vez, batalho a conexão! Parece que consegui! Digito a senha, musiquinha multimídia! Ai meu Deus, mas que demora pro programa carregar!!! Um mero 486Dx4-100, com 16 mega ram é a coisa mais obsoleta de toda a Criação! Até mesmo um Pentium-Pro seria uma lesma lerda diante de tanta aflição! Enfim o programa carrega e, desesperadamente, o mouse trêmulo, procura os usuários on-line. Aflita e consternada, constato que você, nada, nem de leve passou por lá... Quase que desfalecendo, tomo a irreversível decisão de ir pra Pago-Pago, numa balsa de madeira, abrindo mão pra todo o sempre de toda e qualquer ligação com informática, luz elétrica, telefonia. Adeus tecnologia!!! Namorar? Somente aborígines! Que não sabem o que são nick-names ou IDs. Se comunicam usando somente atabaques, maracas, tambores, tantãs e as batidas de seus corações.

Eliane Stoducto - 1997


Foto Charles Ebbets.


Reformas

Fui arrancada do bem-bom do sono pelo blim-blom da campainha! Com os olhos enevoados olho o relógio: 6:45 hs da manhã. Envolta em brumas repletas de carneirinhos, faço um esforço super-humano, visto o roupão e vou ver quem é. Do outro lado da porta avisto o pedreiro e o pintor. Meus pêlos se eriçam de pavor! Me lembro da reforma que estou fazendo e meu humor vai parar na ponta do dedão do pé. Ai meu Deus, por que essa classe subalterna tem a mania de madrugar? Por que insistem em chamar as mulheres de madame? Por que olham com um olharzinho de deboche e desprezo para quem levanta após o meio-dia? Inveja! Só pode ser inveja! E luta de classes também! Afinal de contas eu passo as noites e madrugadas escrevendo, lendo, trabalhando, oras! E, durante o dia, ataco de administradora, contadora, arrumadeira, lavadeira, faxineira, compradora, 'boy', economista, socióloga, pedagoga etc., sem remuneração. Tenho dois filhos e não tenho empregada, oras! Nada dessa "mamata" de chegar em casa e ter quem faça comidinhas para mim! Marmitas prontas? Ahhhh, sonho dos deuses! Meus dias são cansativos e canhestros e eles ainda se atrevem a me pensar "madama"! Arrrrrrrrrrghhhhhhh! Armo um sorriso entre o contrafeito, simpático e culpado e dou bom dia aos "penetras". Certo, certo! Penetras a meu soldo, concordo, mas nem por isso menos penetras! Eles olham para mim e entreolham-se com sorrisinhos disfarçados, como se dizendo: "a orgia noturna deve ter sido boa..." — e eu, pobre de mim, que há dois meses ando em jejum sexual absoluto, pensando até em procurar uma abadia onde me sagrem monja, me aceitem e aos meus dois rebentos, sinto-me como uma loba da estepe, meus dentes internos arreganham-se, quase babo e penso: "é hoje!" O pintor começa a preparar-se: é alérgico, o cidadão. Consome baldes de leite entre uma pincelada e outra e sofre... Seu olhar, por detrás da máscara protetora é de Cocker Spaniel. Tenta me comover. Mas eu sou dura, José! Logo imagino que ele vai tentar reestruturar o orçamento feito previamente, em função de sua alergia e acerto!... Putz! O pedreiro é mais simpático e acessível mas, depois que percebo que a cada dia começa a chegar mais perfumado e até está usando a dentadura, desconfio! Toda cautela é pouca para uma mulher sozinha! Comento casual e maliciosamente: — "Ummm, seu José, o senhor está a cada dia mais perfumado, hein? Vai à alguma festa?" E ele enrubesce e gagueja... Ai, ai, ai — penso: — "Não é que eu tinha razão?" E arrasada de tanto sono, peço licença e vou tratar de dormir mais um pouco, de porta trancada. — "Qualquer coisa batam na porta que vou escrever mais um texto" — minto. Eles concordam e vou dormir mais umas horinhas, se nenhum imprevisto acontecer, se nenhum cano furar, se o azulejo não quebrar, se o epóxi não endurecer, enfim... se tudo correr de vento em popa... Entro em meu quarto escurinho, deito-me, fecho os olhos e sonho.... Sonho com o dia em que esta maldita reforma terminar e eu possa enfim ter o repouso que mereço e gosto sozinha! Absolutamente feliz e SOZINHA!!!

Publicado na CRÔNICA DO DIA, em 14.outubro.1999

Eliane Stoducto



Das idades, da paz e da tranqüilidade...

Outro dia uma pessoa de uma lista que freqüento comentou sobre os preparativos que tinha feito quando estava às vésperas de completar 30 anos e perguntou aos outros o que sentiram quando entraram nesta idade...

Não me preparei e nem senti nada especial quando fiz 30 anos. Para mim, completar 30 anos foi exatamente como fazer 25, 29 ou 34... A mesma coisa quando completei 40. Não sei por que, mas estas datas terrenas, essa obsessão cronológica começou a me dar um certo tédio desde quando, ansiosa por ter 18 anos, descobri que não havia de fato grandes diferenças... Apenas o número mudava.

Quase todos os meus amigos, desde os meus 20 anos, sempre foram muito mais velhos que eu... E eram pessoas brilhantes, intelectuais, jornalistas, músicos, enfim, pessoas que curiosamente eram muito mais "jovens", atuantes e participativas do que as de minha idade... Alguns deles, artistas, têm até hoje a platéia abarrotada por público jovem. "A idade que se tem é a que sentimos" e não a determinada por um calendário que um papa resolveu instituir, sabe-se lá para atender a interesses de quem...

E se o padrão de contagem fosse outro, hein? E se houvesse uma Babel e existissem diversos padrões de contagem cronológica, um para cada grupo social, raça, sexo, etc., que aliás, até muito pouco tempo atrás vigorava em relação às mulheres.

Na minha adolescência, década de 60, ouvia um cantor, o Miltinho, cantar a música "Mulher de trinta" assim:

"Você mulher, que já viveu
que já sofreu, não minta
Um triste adeus, nos olhos teus
a gente vê mulher de trinta..."
(??????????????)

Adeuss??? Aqui, ó! Felizmente esta canção entrou por um ouvido e saiu por outro... Se não estaria marcada a ferro e fogo "ad eternum"... :)))))

Hoje estou com 49 e, se sobreviver, daqui a pouco terei 50, quiçá 60? :) É evidente que algumas mudanças ocorreram em mim, não por causa da idade, mas pelo caminho percorrido e pela capacidade de aprendizado. Conheço pessoas que chegam aos 80 e continuam tão vazias, conformistas e mesquinhas quanto eram mais jovens.

Mas, minhas inquietações, perguntas, indignação e sede pela vida são tão ou maiores do que as da juventude! Quem tiver esta chama acesa não envelhecerá nunca. Não voltaria, nem por um segundo, às minhas idades anteriores! Me gosto mais e me sinto muito mais plena, consciente e generosa hoje do que já fui algum dia.

Descobri que a harmonia e uma certa felicidade estão do lado de dentro e não do lado de fora e que apenas nós possuímos a chave secreta, embora existam pessoas que se debatam pensando que outra pessoa possui sua chave e outras ainda que nem desconfiam que essa chave existe.

Descobri que meu maestro predileto, o Tom Jobim, estava equivocado ou carente quando escreveu "É impossível ser feliz sozinho..." É perfeitamente possível ser feliz sozinho, dependendo da capacidade de introspecção e de gostar de si mesmo de cada um.

Mas como no Universo nada está parado, ficar estática, numa posição de serenidade e harmonia é muito chato! Tanto que estou até pensando em arranjar uma paixão, daquelas terríveis e infernizantes, que tiram a serenidade, a paz e o prumo, pois não estou suportando tanta paz e equilíbrio! :)))

Viver é ter contrastes, sombra e sol, percorrer altos e baixos! Sempre! Que a paz esteja comigo além túmulo. Mas não agora!

Eliane Stoducto

domingo, 29 de abril de 2007

Insônia


Foto Margarida Delgado.

Outra noite de insônia... Aquilo já estava virando rotina. Ela levantou-se da cama e foi até o espelho do banheiro espremer uns cravos na base do nariz.
De repente parou, observou o contorno dos olhos e filosofou sobre a inexorabilidade do tempo e de sua relatividade. Quando presta-se atenção ao tempo e aguarda-se algo, cada minuto parece uma eternidade. Mas, quando distraímos, nos damos conta e às vezes já se passaram dez, vinte anos.
Ela encarou-se de novo no espelho e pensou em como tinha andado distraída. Ainda outro dia olhara-se no espelho e tinha vinte anos e, hoje, o rosto de uma mulher de quarenta a contemplava.
"_ Oi , estranha!"- arreganhou os dentes para a própria imagem, fazendo uma careta enlouquecida de louca furiosa e assustou-se.
Imediatamente transformou os esgares ensandecidos numa máscara calma e tranqüila. Deu um sorriso benigno para si mesma e pensou em como aquele sorriso era perfeito para um comercial de margarina ou de fraldas descartáveis... Só estava faltando o olhar canino: resignado, compreensivo e amoroso.
Pronto! Estava perfeito. "_ Que grande atriz o mundo está perdendo..."- pensou. Nem mesmo o mais experiente psiquiatra perceberia, por detrás daquele rosto bondoso, tranqüilo e forjadamente tolo, o leve brilho irônico e desequilibrado da louca do espelho.
Passou um tônico no nariz avermelhado e pensou que precisava dormir, ou então, no final do mês, estaria com umas oito ou nove rugas a mais e ela não estava disposta a assemelhar-se a um maracujá de gaveta aos quarenta.
Foi para o quarto e deitou-se. Apagou a luz e nada. Tornou a acender a luz e, embora já fosse terça-feira, resolveu dar uma olhadinha no intocado jornal de domingo, para chamar o sono.
As denúncias de mordomias e safardagens perpetradas pela classe dominante, em confronto com a foto de um velho aposentado, com o rosto ensangüentado, por participar de manifestação pelo reajuste de pensões, deixou-a consternada e triste.
Com os olhos marejados de lágrimas, pensou em como o poder era podre ( Podres Poderes, Caetano!) e em como transformava seres humanos em bestas ávidas e insensíveis.
"_ Preciso comprar alguma literatura sobre anarquismo"- pensou.
Pegou então o caderno de Economia e, imediatamente, lembrou-se da imoral taxa de juros, de quase 12%, cobrada pelo seu cartão de crédito e, de que se parcelasse o pagamento do abundante, fútil e supérfluo material escolar pedido pelo colégio das crianças, fatalmente entraria num buraco negro de dívidas impagáveis.
"_ Céus! Como vou descolar essa grana absurda!? Pior que tem também o IPTU e o resto das dívidas do Natal... "- e, imediatamente, pensou que precisava jogar na Loto ou na Sena, pois era urgente resolver esses problemas comezinhos.
Foi na gaveta, pegou alguns volantes de jogo e, olhando aquelas dezenas de números, sentiu-se inteiramente despreparada para marcar os números vencedores.
"_ Quem sabe um pouco de radiestesia não possa me ser útil?"- pensou.
Então, pegou o seu pêndulo de cristal como quem pega uma bóia salva-vidas.
Depois de mais de uma hora, o pêndulo indeciso, insistindo em apontar-lhe uma infinidade de números, ao invés dos desejados, sentiu que a claridade da manhã penetrava em seu quarto, pelas frestas da veneziana. Estava amanhecendo e suas pálpebras estavam ficando pesadas, pesadas...
"_ Amanhã garimpo os números"- disse para si mesma.
Colocou no gravador a fita de relaxamento, apagou a luz do abajur, colocou a máscara de dormir, deitou-se de bruços e adormeceu com a certeza de que aquela noite de insônia tinha-lhe deixado, pelo menos, uma ruga a mais na encadernação da sua vida.

Eliane Stoducto

Poemas

Quixotismo

Adaga cravada no peito

o sofrimento,
grotescamente,

cavalga à deriva
combatendo
tolamente
antigos
moinhos
de vento

profana

transgredir normas
combater titãs
pular as cercas
e seqüestrar
todas as maçãs


natal negro

minha
árvore de natal
ao tem presente
aqui tudo vai mal
com a tua ausência...


pensando, pensando...

o homem que acha
que pensa
que pensa
e não ouve
e não age
só pensa que pensa...


Foto Anne Brigman.

estrepulias

quem brinca
se estrepa
quem não brinca também
então brinquemos
e trepemos muito
meu bem

sexta-feira, 27 de abril de 2007

'Viver é urgente!'




Poemas

Vocação

Certos dias
embora eu me desfaça em pranto,
amanhece,
e os pássaros insistem em cantar
embora queira, insanamente, desaparecer,
a luz do sol insiste em penetrar
pela fresta do olho.
Então acordo , tomo um café,
acendo um cigarro
e sorrio...

Xeque-mate

Sua intolerância
levou ao xeque-mate.
Quem quer comer
não rosna, não late!


Urgência

Escrevo cartas que não mando,
mensagens que não envio
ai, meu Deus, mas que fastio
dessa falsa apatia
tropeçar nas mesmas pedras
trilhar os mesmos desvios
com tanta vida pulsante
me negar e procurar
o tédio das calmarias...
Logo eu que desvario
lato, uivo e enlouqueço
nas noites de lua cheia
eu, que sempre me arrepio
muito mais do que me aquieto
preciso arrancar as teias
daquela antiga guerreira
que habita dentro de mim.

Viver é urgente!



Você, a espada
eu, a taça,
recipiente,
copas

nos encaixamos,
mais que perfeitos,
nessas
trocas

Xerez

Um xerez numa garrafa poirenta
para aplacar a sede

um livro e uma canção só de silêncio
p'ra saciar a alma

um dengo, um cafuné, um arrepio
para acalmar o peito

um beijo apaixonado, bem molhado,
para calar a carne,
emudecer o fogo
e afogar o cio...

quinta-feira, 26 de abril de 2007

'Um bom dia'


Elliot Erwitt.

Poemas

Mar em trânsito
Para Maria Tereza

Para o mar Maria ia
Para o mar ia
Para o mar ia
Ao pisar a fina areia
Em hora de maré cheia
O mar ia até Maria
O mar ia até Maria
O mar ia
O mar ia

Maria
Mar em trânsito...

~~~~~~~~

Mira
para minha mãe


Mira confusa
insana
absurda

Baila sozinha
tão triste
abstrusa

O tempo abstrato
tragando
sua mira

25/09/2004

~~~~~~~~

Sabores

Você, ao me enganar,
me deixou
tão livre e solta,
que hoje não tem volta,
descobri
novos sabores...

~~~~~~~~~

Sob a lua...

Sob a lua
eu reluzo
e flutuo...
Sob a lua
sou estrela
te ilumino
e aqueço
enlouqueço
e te amo...

~~~~~~~~~~

Taquicardia

Delírios de febre,
suor e arrepios,
me toma de assalto
uma taquicardia:
o pulso acelera
assim de repente,
me sinto doente...
Os olhos vidrados,
a boca silente.
Sutil calafrio,
qual sombra da morte,
percorre a espinha.
Na louca agonia
espasmos, tremores...
é a vida que parte?
São males? São dores?
Que nada...
São só ais de amores...

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Xadrez inútil

Jogar xadrez
beber na chávena
o chá da Índia
feito burguês

Fumar charutos
Jogar xadrez
comer rainhas
com avidez

E antever
e maquinar
a estratégia

Abstrair
e descartar
qualquer
tragédia

Ser rei total
e absoluto
mas só ganhar
na superfície
do tabuleiro

Ser jogador
e leviano
ser incapaz
de mergulhar.

Amar ligeiro
é não amar...



Ney Trait Fraser.

Um bom dia

Um bom dia pra morrer
é quando tudo está parado
não se ama, não se odeia
e tudo, aparentemente,
está tão calmo

Um bom dia pra morrer
é quando a saudade do que
não houve insiste, e então,
a gente fica triste

Um bom dia pra morrer
é quando o futuro
não mais nos instiga
com promessas obscenas
das coisas que nunca,
nunca, se conquista

É quando a vida, aos olhos,
se desbota, e o prazer
com as coisas que se tinha antes
já não brota

Um bom dia para morrer é hoje...

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Suicídio ou porre

A manhã tinha sido particularmente difícil e agora eu estava ali sentada, num banco do Largo do Machado, pensando no que iria fazer de minha vida. Só havia uma perspectiva possível sobre o que fazer no momento - ir para casa ver televisão... Meus pêlos se eriçaram e um calafrio perpassou pela coluna diante desta possibilidade... Meu cérebro começou a contorcer-se à procura de alternativas mais agradáveis. De todas as idéias executáveis no momento só restaram duas que possuíam algum atrativo: suicídio imediato ou andar dois quarteirões, até o Café e Bar Lamas e tomar um porre descomunal.
O suicídio apresentava certas vantagens pois eu sabia que no dia seguinte não iria ter que me defrontar com o assustador incômodo de uma horrenda ressaca... O Tonopan e o Ormigrein tinham acabado... Valium, depois que mandara meu analista - que tinha um tique nervoso no olho esquerdo - à merda, nem pensar... Suicídio ou porre? Porre ou suicídio? O que fazer?
Subitamente sons de buzinas enlouquecidas me arrancaram das profundezas do debate interno. Olhei a minha volta. Eram 18h30 e o congestionamento da Rua das Laranjeiras já atingira o Largo. Dois garotos andrajosos e despossuídos, que as pessoas politicamente incorretas denominavam de pivetes, arrancaram a bolsa de uma senhora e saíram correndo debaixo de gritos de "- Pega ladrão!".
Um outro despossuído e sem-teto, isto é, um mendigo andrajoso, deitado num canteiro grunhiu algo e escarrou próximo a mim. Senti algumas gotículas daquela excreção insalubre respingarem no meu pé, mas continuei imóvel, olhando fixamente para o lado oposto, como se estivesse muito preocupada com outra coisa que não fossem aqueles nojentos respingos de escarro no meu pé e, dramaticamente, decidi: SUICÍDIO! NOW!
Levantei-me e lancei um olhar em torno para ver se entre centenas de camelôs encontrava algum que vendesse algo que me ajudasse a levar a cabo minha inexorável decisão. Precisava de lâminas de barbear!
Não as tinha em casa pois há dois anos havia resolvido aderir à nova tendência da moda natural e deixara crescer livremente todos os pêlos do corpo. As axilas inclusive, o que me valera algumas gozações de amigos mais caretas, que passaram a me chamar de Baby, mas isso já é outra história. Minha urgência, no momento, era conseguir adquirir as tão preciosas lâminas para poder concretizar minha inabalável decisão.
Pesquisando com o olhar entre a centena de ambulantes, finalmente avistei um, que vendia as tais lâminas. Aproximei-me e pedi um pacotinho e, ao pegá-lo, - decepção! - descobri tratar-se de lâminas duplas, G2.
-Não tem gilete azul? - perguntei ao ambulante, que me olhou como se eu fosse um ET.
-Essas lâminas são ótimas, moça! Uma faz tchan, outra faz tchun!
-Você não tem lâminas inglesas?
Ele me olhou estranhamente e eu me apressei a pagar e sair rapidamente dali, guardando o inútil pacotinho na bolsa. Olhei em torno desesperançada. O tráfego tinha piorado e o som das buzinas misturava-se ao dos arrancos dos ônibus do ponto final. O ar estava irrespirável com a fumaça dos veículos... Nisto, senti atrás de mim, um leve toque no ombro.
-Pronto! - pensei, desolada - o mendigo ...
Fui virando lentamente o rosto por cima do ombro, imaginando o que me aguardaria agora....
-Zuca! - quase gritei, entre surpresa, aliviada e encantada.
Zuca tinha sido meu quase namorado na época da faculdade e, desde que voltara do exílio, não voltara a vê-lo.
- Que prazeeeeeeeeeeer! exclamamos mutuamente.
Abraços efusivos e calorosos, beijos de "bico" e decisão de comprarmos umas "cervas" no boteco mais próximo e irmos até lá em casa para botar o papo, com 8 anos de atraso, em dia.
As lâminas foram utilíssimas! Usadas para uma depilação completa, no cheiroso banho de espuma que tomei, enquanto Zuca botava as cervejas no congelador, escolhia uns discos, olhava o Parque Guinle e o topo do Palácio das Laranjeiras e se familiarizava com o terraço da minha pequena cobertura...



Publicado na CRÔNICA DO DIA , em 30.outubro.1998


quarta-feira, 25 de abril de 2007

'E choro, e uivo, e me debato.'

Poemas



Lava

Meu sangue borbulha
e ferve, é lava
que lava, escalda
e queima, me arde...

Meu sangue é lava,
excita, me inflama,
castiga e aflige,
me deixa em viva carne...


Lua Cheia

Nas madrugadas insones de verão,
montada em negro corcel, viajo rumo ao passado.
Deliro, ardo em febre. Me apunhalo.
Me afogo em frios suores e,
depois, choro pela vida desperdiçada
como o vinho entornado
nas mesas de tabernas ordinárias
e chopes não terminados, levados
por apressados garçons mercenários.
Choro por minha polidez medíocre e bem comportada,
pelo tolo acato às convenções institucionalizadas,
pelo horrível aprendizado de engolir sapos.
E choro e uivo e me debato.
Afinal, é lua cheia...

Madura Idade

Aquele olhar de antigamente,
surpreso e transparente,
transformou-se em oblíquo e cansado.
O riso que brotava tão freqüente, rareou.
Ficou em seu lugar apenas um esgar entediado...
As mãos que eram quase de criança
viraram as de mulher atarefada...
Os cabelos castanhos se cobriram
com alguns fios prateados...
A velha timidez se travestiu
e agora já mal dava pra notar...

Apenas, algumas vezes, era quebrada
aquela paz tão duramente conquistada:
só quando a garotinha prisioneira
insistia em protestar
e a senhora, rápida e rasteira,
tentava lhe estrangular!



Meio que...

Ando meio que drogada,
meio que apaixonada,
exalo nicotina e paixão.
Ando meio que bonita,
meio que aflita,
entre a taquicardia e o tesão.
Ando meio que contente,
meio que doente.
Pra ser feliz,
estou por um triz...
Ando meio que surtada,
meio que amada...
Ando meio que...
meio que...
sei não!

Oceano interior

Algas, plâncton, maresia
espelho de águas serenas
angras, pélagos, enseadas
sob uma pele morena

águas cálidas, tranqüilas
encobrindo turbilhões
profundezas insondáveis
reinos de treva abissal

grutas secretas, águas frias
correntezas e marés
lavando o lodo das mágoas
transformando o fel em sal...

OCO

teu pouco
amor
louco,
primeiro
foi como
um soco,
depois,
deixou-me
o peito
oco

Peso do nada

Sou formada por ausências
solitude, abstinências
que muitas vezes esmagam
os gritos do meu silêncio

Sou feita de mil querenças
anseios e transparências
que muitas vezes emergem
com a voragem de um tufão

Sou fruta verde-madura
um travo de fel-doçura
aguardente que se traga

igo cerzindo essa teia
segurando em minhas veias
todo o peso deste nada

Quase

Quase me perco
nas dúbias sendas
do teu enredo

quase me rendo
nas negras teias
desse tecido

quase me afundo
nas águas turvas
quase me embrenho
na selva escura

mas saio inteira
e com mais viço
escapo ilesa
desse feitiço...

Que noite...

Que noite essa minha
sem sonho, sem sono
sem lua, sem vinho
que noite essa minha...
ganindo, gemendo
latindo sozinh
ao ponto da agulha
cerzindo sem linha
que noite essa minha!





A dor vinis crescendo...
Eliane Stoducto


Não sei o que me atacou... Provavelmente ter ouvido a mp3 do Márcio Proença, meu velho parceiro, achada na web. Feliz o tempo? Ou então nostalgia da mais simples e honesta boemia. Quem sabe o excesso de reclusão que, geralmente, transo numa boa e até me dá prazer, se transformou? Ou então a memória da pele - e do fígado - de um uísque nostálgico?
Não sei... Sabe-se lá o quê... Mas a saudade de antigas boemias bateu... Saudade de uma época em que eu era dona do meu nariz em que podia sair e voltar com o dia alto... Ou não voltar. "uísque, dietil, dienpax..."

Pessoas boêmias e com inequívoca vocação para a solidão, com sentimentos ambíguos, duais, pertencentes ao sexo feminino, não deveriam ter filhos. Ou deveriam?
Que me desculpe o poetinha

"Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!"
Mas se não os temos
Como sabê-los? Como sabê-los?"

mas isto é muito bom para poetas diplomatas do sexo masculino com grana no bolso e mulheres. Mulheres em profusão. Dedicadas, apaixonadas e maternais para cuidar deles, dos filhos deles, trocar as fraldas e comprar e agendar bananas e legumes para a papinha, enquanto o poeta enxuga umazinha, toma uma caipirinha e come uma feijoada com gostosa farofinha. E sofre, e cogita, e filosofa. E pode dar-se ao luxo da ressaca. E internar-se quando a coisa toda empaca.

Não há poesia numa fralda de cocô palpável e olfatável esperando no tanque. Não há poesia no ensaboar em si, apenas nas palavras e no olho do poeta.
"foi, quem sabe, esse disco, esse risco de sombra em teus cílios, foi ou não, meu poema no chão, ou talvez, nossos filhos..."

Mas... tirante os filhos que aborrecem, adolescem, nos enlouquecem e controlam, tirando-nos a paz e o prumo e que, provavelmente, depois se vão para o quase nunca mais (quando, meu deus, quando???? que seja já!) sinto uma angústia prosaica.

Uma angústia de não poder ouvir mais meus vinis... tenho muitos vinis mas o raio do meu som só toca CDs. Toca três CDs e nenhum vinil! Vinis de amigos, vinis com dedicatórias, vinis com minhas letras, música de amigos...

Vinis que me transportam no tempo, nas pessoas, nos afetos, nas minhas milhões de facetas interiores, e que jazem nas prateleiras do teto... Daqueles, que nunca vão ter regravações em CDs porque são raros, desconhecidos, de amigos, vinis de colecionador.
Que lástima... Estou velha, arcaica, senil como o vinil dos nossos embalos de sábado e sexta-feira à noite...
O vinil que contava nossas histórias pessoais e passionais, com a faixa arranhada e gasta - quase furada - de tanto ouvir quando se chegava em casa de porre depois de ter perdido o suposto grande amor... Aquele, do qual conhecíamos os arranhões e cicatrizes, se foram... E hoje eu choro a perda dos velhos vinis com suas heranças, histórias e legados febris.


Publicado em Collectanea

segunda-feira, 23 de abril de 2007

'Excesso de bagagem'

Poemas

Excesso de bagagem

Nosso caso já morreu
antes de poder ter sido
e essa sensação, o déjà vu,
essas palavras...
Alguém mil vezes já falou,
algum poeta, algum amigo...
Soterrar toda a paixão,
emparedar desejos
em eternos porões sombrios...

Não importa,
apenas mais uma rotina,
apenas mais uma tristeza
que vou levar comigo.
É só mais uma...
Tenho malas tão cheias,
carregadas,
que não sei como vou
pagar o preço
pela bagagem extra
no fim dessa jornada...

Fogos... fátuos?
(véspera de reveillon, 2003)

Não preciso ir ver os fogos.
A mim já bastam os meus:
fátuos, tolos, in
sensatos, meio
vivos, semi-
mortos, que
insistem
em quei
mar

Futuro do pretérito

Eu poderia ficar horas te escutando
tuas piadas, teus projetos, teus enganos.
Eu poderia te olhar horas a fio,
enquanto tu fosses desfiando
as histórias da avó e dos teus filhos...
E ficaria horas contemplando
o teu jeito meio bobo e te adorando...
Ah, eu ficaria, sei que ficaria...
Com a atenção dispersando eu te olharia
sorrindo com ternura e simpatia,
a mente vagueando em outros planos,
ansiosa, procurando a fantasia
de te ter dentro de mim...
Ah, eu faria tudo isso, ah, se eu faria!
Depois, quando calasses, eu te levaria
para os brancos lençóis,
então serias o meu dono...
Mas, hoje não, meu querido, estou com sono...

Insana

O seu olhar
detonou
aquilo que estava
a sete chaves
bem guardado
o beijo inevitável,
depois,
na cama,
a marca indelével,
presença insana,
ficou para atestar
o que se sente,
o que se irmana
e nas tramas
do tesão
e da ilusão
ainda é
chama.

Labirintos

Coloridos
e sombrios
os labirintos
da alma,
onde me perco,
me agito,
me desavenho,
reflito,
me acho
e encontro
a calma...



Pierrô por circunstâncias

Eliane Stoducto

Quando ele nasceu era um lindo, gorducho e sorridente arlequinzinho. Seu pai era Crespin, o arlequim e, sua mãe Faustina, a colombina.
Na maternidade, assim que Faustina tomou-o nos braços pela primeira vez, foi logo falando:
- Que lindo pierrozinho!
No que seu pai, Crespin, retrucou, em voz sonora:
- Que pierrô que nada, mulher! Parece cega! Não está vendo que ele é um lindo arlequinzinho?
Convém notarmos que a relação entre Crespin e Faustina sempre fora muito conturbada. Desde o namoro ficara claro que eram almas muito diferentes. Questão esta, muito habilmente contornada por Faustina, que estava firmemente decidida a não deixar que “pequenos” detalhes influíssem no seu projeto de casamento com Crespin.
Diante de tal afirmativa, Faustina, como sempre bastante irritada com Crespin, reagiu:
- Cego é você, Crespin! Cego e desequilibrado! Você não pode ser árbitro de nada!
Além de passional, há sempre vapores alcoólicos toldando sua mente e visão! Isto impede que você veja as coisas com clareza! Eu, que sou uma mulher ponderada, equilibrada, imparcial e justa, posso muito melhor que você, julgar e avaliar precisamente a realidade! É claro e cristalino como a água que nosso filho é um lindo e gracioso pierrozinho! Vá curar sua carraspana que é o melhor que você faz! Você, que vive entre a bebida, amigos escusos e mulheres duvidosas, deveria recolher-se e não perturbar desde já nosso filho com seu passionalismo e confusão!
Crespin ficou pau da vida. Mas, como Faustina estava de resguardo e Crespin não tinha a menor intenção de prejudicar o filho recém-nascido, saiu e foi para o bar mais próximo da maternidade e, encheu a cara durante sete dias e sete noites consecutivos, findos os quais foi para casa, trancando-se no quarto de hóspedes por mais dois dias para curar a ressaca.
O menino foi registrado, um mês depois, com o nome de Tristão, por absoluta insistência da mãe e, sua festa de batismo, apesar dos esforços de Faustina, foi um completo desastre.
A principiar pelo fato de Crespin ter chegado à igreja atrasado e acompanhado com uma turma de amigos blasfemos, alegres e ébrios, causando-lhe o maior constrangimento.
Depois, na recepção que Faustina organizara em sua casa para comemorar o evento, Crespin, como sempre, se excedera na bebida e cortejara todas as mulheres, homens, velhos, velhas, adolescentes e crianças, que adoravam suas brincadeiras, deixando Faustina furiosa.
Depois que Faustina confiscou publicamente a bebida de Crespin ele começou a perder toda a alegria, sentindo-se desrespeitado e humilhado e, lá para o final da festa, já inteiramente embriagado pelo desacato e desgosto, vomitou no prato de empadinhas, após o que, refestelou-se no meio da sala começando a dormir profundo sono, meio entre o desmaio e o coma alcoólico.
Faustina agradeceu aos céus da maioria dos convidados já ter se retirado e, com a ajuda de parentes, conseguiu arrastá-lo até o quarto.
Depois desse episódio o casamento agonizou por mais alguns meses até que o casal decidiu-se pelo inevitável divórcio.
Crespin foi morar em Brasília e a guarda do pequenino Tristão foi confiada à sua mãe, que o criou correta e desveladamente como um... pierrozinho.
Tristão era uma criança bela, alegre, feliz e descontraída demais para o desgosto de Faustina.
Toda vez que levava o menino para tomar sol na pracinha ouvia sempre comentários:
- Que belo arlequinzinho!
Ao que ela, retrucava irritada:
- Arlequim não! Pierrô!
De tanto ouvir esse comentário, para deixar bem claro quem era Tristão, passou a pintar em sua face esquerda uma grande e bem desenhada lágrima. E lá ia ela orgulhosa empurrando seu pierrozinho...
Tristão foi crescendo e se dando conta de que toda a sua alegria, espontaneidade e displicência amarguravam profundamente sua mãe.
Para sentir-se amado foi começando a dissimular sua vivacidade por trás de uma máscara triste e meio apática. Por quantas vezes tivera de conter ímpetos de pura alegria de viver era impossível de se contar.
Faustina, sentindo-se traída pela vida e pelo destino, foi ficando a cada dia mais amarga, mais desconfiada com o mundo.
E o tempo foi passando... Aos 19 anos, Tristão era um belo rapaz. Alto, magro, de olhos sonhadores e vagamente inquietos... Deixava, passivamente, sua mãe continuar a pintar-lhe a eterna lágrima no rosto antes de ir à Faculdade. Eram muito apegados. Afinal, como se desavir com aquela mulher, que se privara de tudo, como ela mesma dizia, e dedicara toda uma vida de lágrimas e sofrimentos pelo seu bem e felicidade? Ou melhor, infelicidade?
Sim, porque Faustina tinha um verdadeiro culto pela tristeza e ações dramáticas. E Tristão, por hábito, necessidade e cotidiano, compartilhava da sua maneira de ver a vida. Ou, pelo menos, assim era levado a pensar.
Desde muito cedo aprendera a dissimular qualquer faísca de felicidade para agradar Faustina, que não era muito chegada a arroubos de alegria. “Muito riso é sinal de pouco siso” – dizia ela - que sempre fora muito apegada a ditos populares e estava sempre tirando um da cachola para aplicar ao seu dia a dia...
E Tristão, que sentia inseguro e tinha um imenso desejo de ser amado, não ousava contrariar a soberana mãe.
Nas madrugadas insones, enquanto viajava em sua louca fantasia, se imaginava muito, muito feliz, perpetrando a enorme indignidade de satisfazer seus próprios desejos. Se esvaia em gozos, beijava bocas, tocava corpos, bebia vinhos, dançava e gargalhava. Sentia o doce aroma que provinha de seu corpo limpo e pensava no quanto queria compartilhá-lo com alguém. Dormia imerso em devaneios e a manhã chegava, arrancando-o de transes tão luxuriosos e exóticos.
Pela manhã, logo após trancar-se no banheiro olhava-se ao espelho e compunha sua máscara trágica para sair para o café e dar o bom dia matinal à sua gentil mãe. Automaticamente seu olhar se esvaziava das emoções e dos anseios da madrugada para beijar aquele rosto tão sofrido e familiar de Faustina.
Convém que se diga que não havia revolta nos sentimentos de Tristão. As coisas, para ele, estavam postas de uma forma determinada (por Faustina) e isso era inquestionável, estavam entranhadas e faziam parte de sua vida. Só havia um sentimento meio vago, muito interno, de desassossego, de inquietação, de nostalgia de algo não vivido, que ele não sabia exatamente o que era.
Até que certo dia – ironias da sorte – chegou da faculdade mais cedo do que o previsto pois fora decretada uma greve geral. Haveria uma passeata de alunos e mestres e, embora morto de vontade de participar, se esquivara pensando nas críticas, cenho franzido e sofrimento de sua nobre e casta progenitora, que odiava qualquer manifestação em repúdio a qualquer norma institucionalizada.
Ao abrir a porta de casa ouviu ruídos, ganidos e gemidos vindos do quarto de Faustina e seu coração quase parou!
- Mamãe está tendo um enfarte!? Um derrame!? Mamãe enlouqueceu de sofrimento?! Quem sabe tenha ouvido a notícia da passeata e ache que eu esteja participando?! – pensou angustiado e aflito.
Ao abrir afoita e alucinadamente a porta do quarto deparou-se com uma cena surreal, inimaginável.
Viu sua casta e santa mãe, Faustina, inteiramente nua, com um olhar esgazeado, sorriso lascivo, entre urros, gemidos, gritos, em estertores de gozo, sendo apalpada, lambida e chupada por um desconhecido, com um membro enrijecido, de proporções dantescas.
Soltou um urro gutural e agoniado, de animal ferido e saiu correndo porta a fora e se perdeu no mundo. Sentia-se traído, iludido, ludibriado e desperdiçado!
Passou exatamente sete anos comendo, bebendo, trepando, amando, sofrendo, cantando de tristezas e alegrias, chorando e rindo, gargalhando e usando plenamente todos os seus sentidos. Numa farra e orgia loucas, celebrando a descoberta de sua verdadeira identidade.
Agora então podia ser o arlequim que sempre fora desde o berço e até sentia-se generoso para perdoar toda a hipocrisia de Faustina...


Publicado na seção "O Domínio da Matéria", em Condomínio Brasil, fev. 2006

sexta-feira, 20 de abril de 2007

'Brilhando feito uma estrela'

Ave Estranha

Ave triste
sobrevivo
banhando
de lágrimas
o planeta...
Ave estranha
sobrevôo
e transformo
a terra
em mar...


Cálida




Venha banhar-se
nas águas cálidas
do meu desejo

singrar meu âmago
me navegar...

Colcha de retalhos

A felicidade é uma colcha de retalhos
que eu vou costurando devagar
tecendo-a com as linhas das tristezas
dos risos e das lágrimas do olhar


Cócegas

para o meu filho Juliano

A mão de minha mãe
faz cócegas em meus braços
A brisa que entra pela janela
faz cócegas em meu rosto
enquanto sinto e brinco
os homens trabalham...

Cósmica



Na cósmica noite fria
Vagando qual um cometa
Minha paixão viaja
Brilhando feito uma estrela
Perdida na imensidão...


Cria Cuervos

quando se cria
corvos

eles não só
te arrancam
os olhos

como também
te ferem

e dilaceram
a alma...

Dança

Dança
doida
da esperança

verdecendo
o deserto

vicejando
o secreto

movimento
do universo

Dança Aflita

para Vito Cesar

Dançamos nós
A dança dos casais
A dança de animais
Lagos de vinho
Cio

Dançamos mais
A dança dos aflitos
A dança dos malditos
Poças de sangue
Sina

Rodopiei
Na dança dos vampiros
Até cair exangue
Fado
Destino
Frio

Densa, quente...

densa, quente
transbordante

fria, chata e
anarquista

prato, talher,
guardanapo

mesa posta
pra analista

Detesto jogos...

Detesto os jogos da vida
sou avessa às disputas
Detesto emular com o inimigo
trauma antigo
secular

Gosto do olho no olho
pra começar a questão
gosto dos toques, dos gestos
me exponho
à rejeição

Suporto bastante as falhas
pois sou infalível em falhar
agüento os porres alheios
permito-me
embriagar

Por isso às vezes me tolho
Por isso às vezes me encolho
E fico a ruminar
Cogito, reflito, penso
E começo a gargalhar.


Poemas

Dragão

O dragão - sua língua
e seu hálito ardente -
derrete as entranhas
e desperta a serpente...

Em desalinho...

dias dementes:
mente oca
lábio amargo
alma louca
boca silente

Enfim só

Não deu certo o teu encanto, a tua lábia
Aprendi, hoje estou sábia
E nem que o Papa sambe de baiana
Vou rebolar na tua cama...
Acabou, meu amigo,
Aquele amor ficou antigo,
Deu bolor...
Estou de bem comigo.
E isto, agora, já não é tão difícil...

Eros caótico

Este meu Eros caótico
às vezes tão pacato
em certos dias
traveste-se
de feroz Thanatos

Espasmo

Esparjo
fluidos

ensaio
vermelhos

implodo
de gozo

explodo
em azuis.

E pasmo!


Aos seis meses...

La Niña

Rio de Janeiro, dezembro, quase verão. Tateio à procura de uma colcha para me cobrir e acabo despertando com a aragem fresca entrando pela janela. Como que por milagre está fresquinho. Parece uma manhã de maio. Agradeço aos deuses, à Deusa e, especialmente, à La Niña.
Pelo que andei lendo nas previsões de tempo, aquele nefasto El Niño, causador de tanta desgraceira parece que foi embora de vez. Em seu lugar chegou ela - La Niña.
Dizem os noticiários meteorológicos que ela é de paz, tranqüila e que vai nos abençoar com verões frescos, chuvas no Nordeste e muitos outros fenômenos climáticos bons e benignos.
Eu rezo para que eles estejam certos. Certíssimos, de preferência. E rezo também para que as transformações climáticas se estendam a outras esferas... Pois acho que todo o povo da Terra está mais é precisando de uma Grande Mãe, acolhedora e terna, que abra seus braços, nos abençoe, afague e conforte, dando-nos força, lucidez e esperança para enfrentarmos e vencermos tanta injustiça, tanta falta de escrúpulos, tanta luta pelo poder.
Quem sabe ela não consiga lavar mágoas, purificar mentes e corações e insuflar neles alguma generosidade, solidariedade e empatia?
Seria um belo presente de Natal para o Planeta!
Seja benvinda Niña!
Proteja-nos, ó, Grande Mãe!

Eliane Stoducto
Publicado na CRÔNICA DO DIA, em 25.dezembro.1998

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Presença na rede

"Além da Cristal Poesia trabalho nos meus outros sites: Poema em Movimento, RJ Sinfonia, Templo da Lua Negra, Letra de Corpo (em parceria com a Claudia Letti) e Katarse Verso e Prosa (site da minha lista de escritores); em três blogs: o Palavras Tortas, Em desalinho e o Mundo Delirante.
Colaboro, esporadicamente, em: Levanta, Rio!(em parceria com a Marcia Cardoso), Collectanea (da Adriana Paiva), Condomínio Brasil (da Esther Lucio Bittencourt e Ana Laura Diniz) e no blog coletivo Conversa de Botequim
Escrevo também algumas coisas vindas aqui de dentro, quando o trabalho de webdesigner e de casa, e os meus próprios demônios internos permitem...
Como boa pisciana sou meio impressionável :) e me sinto atraída por assuntos esotéricos mas, sem chegar ao extremos de comprar "kits esperança" e, por mais que me esforce, não consigo acreditar em fadinhas e gnomos...
É isso aí... Falo demais... Vou colocar neste site as coisas que faço, gosto e curto... Poesias minhas, poemas de amigos, letras de música, prosa, contos, crônicas e o que mais me agradar.
Ah! E mais uma coisinha! Só tenho uma certeza inabalável: a certeza absoluta de que na vida, certezas não existem, só existem dúvidas, mas, que são exatamente elas - as dúvidas - que nos fazem arriscar e nos levam ao caminho do aprendizado, do conhecimento e de alguma sabedoria... "



Poemas

Videotape

Ai quem me dera que o fogo das paixões
de novo me tomasse por inteiro,
incendiada, no calor da discussão,
atiraria em você algum cinzeiro
e botaria você da porta a fora
jurando não querer ver sua cara,
nem ter seu corpo nunca mais, nem nada, nada!
Você iria embora e eu choraria
tal e qual uma criança desgraçada.
Para esquecer eu tomaria vinte uísques
e cairia, no sofá, já desmaiada.
Quando acordasse, abandonada e de ressaca,
me sentiria doente e mal amada
pois te queria ao meu lado, me cuidando,
me dando um sonrisal e uma trepada...
E aí me sentiria, como se estivesse,
num pronto socorro da Zona Oeste:
com frio, triste e desamparada.
Fecharia os olhos e pediria a Deus
para levar a minha alma...
Depois de dias de desespero chegaria a conclusão
de que você era o meu tempero
e então faria planos para te reconquistar,
mas você me ligaria antes de eu telefonar.
Com o coração aos pulos eu diria, calmamente,
que a gente precisava conversar.
Você concordaria e marcaríamos
dia, hora e lugar...
E eu botaria a minha roupa mais gostosa
fingindo ser a coisa mais banal e você,
com sua camisa mais charmosa,
fingiria não notar.
No bar concluiríamos que não dava:
eu não gostava de você, mas te amava.
Você não me amava, mas gostava.
Era urgente que acabássemos
com toda aquela loucura passional.
Como adultos de bom-tom brindaríamos
à separação com vinho
e algumas lágrimas disfarçadas.
Você me levaria para casa e,
depois do longo abraço de adeus,
você estaria teso e eu molhada.
Prontos a repetirmos
a nossa estranha jornada...




Ab sinto

Ab duzo
o pensamento
obsessivo
ab sorvo
losna, anis
sorvo
ab sinto
me ab straio
dessa dor
ab soluta

Anjo

Você chega e me seduz
e eu quase que derreto
me vejo toda boba
e logo alguma coisa
em meu olhar reluz.
E todo o ceticismo
vai para o espaço eterno,
qualquer prudência é vã ,
toda cautela é zero.
Minha sabedoria
não serve pra mais nada,
toda filosofia
se perde no universo.
Começo a ver estrelas,
sinto asas na barriga
sem medo e sem pudor
sou sua por inteiro.
Você me inoculou
seu vírus redentor
e contra ele, anjo,
não existe protetor.

Agridoce

Esse amor vagabundo
me atira num mundo
de insanas paixões.
Esse amor bem maluco
umas vezes é eunuco,
mas de outras me aquece,
me agita , me queima,
me deixa aflita,
seqüestra e me perde
nos confins do tesão.
Amor inconseqüente
umas vezes valente,
outras só timidez.
Ainda domo esse homem
e sua doce loucura,
e o arrasto pra cama
da maneira mais pura,
encharcando os lençóis
de amarga doçura.

Arte final

"Temos a arte para que a verdade
não nos destrua..." (Nietzsche)

A arte de poder chorar
a arte de poder sorrir
acho que as perdi

Mas ainda me resta
a arte de
poder dormir...

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Boas lembranças e uma 'Grata surpresa'



"Escrevi alguma coisa para televisão e teatro, como colaboradora e aprendiz de uma pessoa linda, amigo do fundo do coração, o escritor, roteirista, teatrólogo e gênio, Armando Costa. Essa pessoa linda, atualmente deve estar tomando seus "hi-fis", com vodca e suco de laranja "bem coadinho, bem coadinho, bem coadinho" (sic) numa nuvenzinha, acompanhado de Vianninha e Paulo Pontes, que foram seus parceiros muito antes de o conhecer, e com outros amigos que partiram e, espero, pensando em mim de vez em quando...
Escrevi também, algumas letras de música, uma meia dúzia delas gravadas. Mas, fiquem tranqüilos, tenho quase certeza que vocês nunca ouviram, nem nunca vão ouvir, pois nunca estive e, acredito, nunca vou estar inserida dentro da mídia. Sou bicho estranho..."


Grata surpresa


Hoje acordei assim, meio barro, meio tijolo, à tarde conversei com uma amiga por telefone e comentei que a vida é, realmente, uma barra, pois tenho visto muitos documentários na GNT, Discovery e National Geographic e, a cada dia que passa, me convenço que viver é uma luta só...

Quase choro e fico deprimidésima quando vejo aquela pobre manada de elefantes se arrastar pela África a fora (ou a dentro) em busca de uma água, coitadinhos, ou então aquelas pobres focas sofredoras e sobreviventes se debatendo para escapar de tubarões medonhos e famélicos, ou ainda um pobre veadinho, apartado da manada e de sua mãezinha sendo devorado por um lindo, terrível e voraz tigre da Sibéria...

Os próprios belos e famélicos predadores vivem uma vidinha de dar dó! Sempre naquela insegurança e com o estômago colado nas costas, pobres...
A vida não é mole não! É uma luta eterna, e, quando a luta cessa só resta a carcassa...
Então, quando eles colocam uma tempestade no deserto em câmara lenta, ou um mar revolto, em fúria, e a gente percebe a nossa pequenez diante de tudo, é de chorar baldes...

E daí vem o Paulo Coelho me falar de fazer o Caminho de Santiago e coisa e tal... Ora, faça-me o favor! Não tenho nada contra ele, nem o odeio como grande parcela de gente que conheço e, ao contrário dos maldosos, li alguns de seus livro e até gostei, embora não me lembre mais do conteúdo de nenhum, mas essa história de fazer o Caminho de Santiago é coisa pra desocupado, coisa de dondoca que nunca teve um revés na vida, eu acho...
Os pobrezinhos dos bichos fazem um Caminho de Santiago eterno e, não são só os bicho, não!
Eu mesma, bicho-mulher e bicho-grilo e mais um monte de gente que conheço vivemos num Caminho de Santiago eterno, cheio de agruras, incertezas, dúvidas, sofrimentos físicos, afetivos e espirituais de responsa...
Alguns têm consciência das pedras do caminho e adquirem alguma sabedoria (sei lá pra que, mas eu gosto), outros fingem não vê-las (as pedras), e, como um antigo namorado que tive, pensa (ou quer) estar aqui só a passeio, mas isto não cabe a nós decidir nem se pode escolher, deveria perceber ele, que já coroa tinha que viver encostado na casa da mãe, ferrado e sem grana...

Então, como estava dizendo, me encontrava assim, nesse estado de ânimo meio macambúzio e bastante "inútil paisagem" quando, agora a noite, abro um e-mail do PD Literatura (Projeto Diário de Literatura) e descubro que eu, o Fred Matos e o Nel Meireles fomos escolhidos nos ESPECIAIS de novembro da Revista, olha que luxo?

Uma verdadeira gota de mel no deserto da vida! :)

Muito obrigada, Asta!



Eliane Stoducto

em Palavras Tortas, 31/10/2006

Poemas

Procura

Onde ficou meu prazer?
Procuro dentro de mim...
Ficou perdido nas mágoas,
no medo oculto,
no choro convulso.

Onde ficou meu prazer?
Procuro dentro de nós...
Ficou perdido em mentiras,
em tolas desculpas,
palavras injustas.

Onde ficou meu prazer?
Procuro entre os lençóis...
Ficou perdido na proa
de um barco à deriva
e eu parto à procura
já estou de saída...


Pressa


Vamos, baby
se apresse,
pois enquanto
você valsa,
danço reggae...
Vamos acertar o passo...
Vamos, baby!
que a orquestra
está cansada
e arrefece...
Vamos, baby!
ou me canso
e o tédio
me adormece!

Pororocas

Os prazeres do corpo
adoçam, alegram, cicatrizam.
Abaixo diques, represas!
Sinto o temporal caindo
no deserto. Secreto.
Liberando sumos.
Virando Amazonas.
Abaixo a aridez!
Meus fluidos correm livres outra vez!
Quero foz, quero delta, quero
muitas pororocas!
Quero muito! Quero mais! Do bom e do pior!
Quero aprender, crescer, evoluir
como a Mocidade na Sapucaí!
abraçando generosamente
tudo que me cabe:
o ruim e o melhor! Sem restrições.
E poder finalmente concluir
que tudo depende do ponto de vista,
que são muitos, que são mis.
Abaixo maniqueísmos! Abaixo racismos!
Vivam os quereres! E os amores! E os desamores!
Mentes míopes, empoeiradas,
hipermétropes e cansadas
pouco podem perceber!
Visão estreita. Mente estreita.
Estreito é o nosso olfato, o nosso tato.
Faixas limitadas. Limitadíssimas.
O corpo é o limite! Socorro!
Quero jogar tanto xadrez quanto porrinha.
Admirar Picasso e Nilton Bravo.
Me deliciar com adoçante, sal marinho,
fel e açúcar mascavo.
Quero amar o ateu e a freirinha.
O belo e o feinho.
E amar. E ter prazer. E transcender.
O limite...

terça-feira, 17 de abril de 2007

Eliane por ela mesma

"Doses minhas pra saciar a curiosidade de qualquer um! E, só um pequeno lembrete, pra quem gostar a vir possa: sou chata, passional, às vezes triste e, quase sempre temperamental, ao mesmo tempo que tento levitar mas, nem sempre consigo... Só de quando em vez... :)
Enfim, sou extremamente humana demais para o meu gosto... ou desgosto ... :(
Mas sempre estarei disposta a defender a liberdade de expressão e de tudo o que não prejudique, afete ou magoe o outro e a tentar ver sempre o mundo com olhos bons! Mesmo que isto, às vezes, me traga alguns dissabores..."

Abri as portas

Abri as portas
Abri o peito
Abri as pernas
Abri os braços

Perdi o tempo
Perdi o afeto
Perdi o gosto
Perdi o tato

E comprei tranca
Com cadeado
Vidro blindado
Porta de aço

Carne de pescoço

Gosto dos malucos, doidos, desgraçados
exagerados, tristes, apaixonados
que praticam um suicídio tão diário
por sentirem tanta sede e gana de viver

Gosto dos que crêem na própria insanidade
por saberem-se humanos, limitados, miseráveis
e com isto exercitam a humildade
conscientes de estarem aprisionados
nesta pobre casca humana até morrer

Não gosto de ares de superioridade
(os parâmetros são tão tênues e precários!)
não concedo a ninguém autoridade
- Oh, esses deuses e deusas sectários -
pontificando sobre a vida e o que fazer

Pois na minha prisão de carne e osso
sou única, sou livre, sou colosso
sou meu anjo e meu algoz,
fora-da-lei sou coisa feita
e carne de pescoço.

Palhaça


O tempo passa
e eu,
palhaça,
no circo maldito
choro risos



"Me formei em História, há tempos atrás, pela UFRJ e, por motivos pessoais e absoluta aversão às coisas determinadas e estabelecidas - academicismos, cartilhas e doutrinas - tracei para mim mesma um caminho meio "gauche", meio na contra-mão, ligeiramente afastado do convencional.
Enfim, dentro desse quadro, passeei por caminhos diversos, como uma druida pós-moderna, maga, louca e eremita (v. tarô), em busca de um conhecimento específico, particular, que se adequasse à minha maneira de sentir e perceber as coisas, o mundo...
Batalhei e tenho batalhado para descobrir caminhos próprios, diversos daqueles que gostariam que eu seguisse...
Continuo na busca, e às vezes me sinto envolvida pela escuridão, de outras, vejo o brilho de cristais e me sinto iluminada. Algumas vezes pago um alto preço por ser como sou, mas gosto da minha escolha e, em momento algum, me arrependo do caminho que tracei para mim... "

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Apresentação




A carioca Eliane Stoducto estudou no Colégio Pedro II, fez dois anos de Desenho de Arquitetura e Urbanismo, no Instituto de Belas Artes (IBA), no Parque Laje, e se graduou em História pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Recém-formada, lecionou Geografia e História e fez pesquisas no Arquivo Nacional e na Biblioteca Nacional, para o Centro de Pesquisa de História Econômica do Brasil (CEPHEB); pesquisou no Arquivo Nacional sob a orientação do professor Mircea Buescu (1977/78); foi pesquisadora-assistente no projeto Atenção à Saúde e Controle Social –1900-1940, financiado pela Fundação Ford, sob a orientação do professor Nílson do Rosário Costa (1980).
Nos anos 1980 começou a escrever letras de música e participou de alguns festivais de MPB. Classificou-se no Festival de Juiz de Fora, 1981, com três músicas (letras), e obteve o primeiro lugar com a música Fênix. No mesmo ano classificou-se em quarto lugar no Festival de Ouro Preto e, em 1986, no Festival de Muriaé.
Ainda em 1981 dirigiu o show de Aécio Flávio e Jane Duboc, no Teatro do Parque, em Recife, e no Palácio das Artes, Belo Horizonte.
Teve cinco de suas letras gravadas pelas gravadoras Polygram, 1980; Aycha, 1981; Pointer, 1982; RCA, 1982; Pointer e Polygram, 1983.
A partir de 1979, trabalhou como colaboradora do escritor e roteirista Armando Costa, parceiro e amigo, em alguns seriados para TV. Ainda com Armando Costa, fez a adaptação para teatro de O Analista de Bagé(1982) e escreveu a peça Filhos da Pátria! (1983) ainda inédita.
Em 1982 seu depoimento "Pernas pra que te quero" foi premiado e publicado pela Revista Nova.
Com o nascimento de seus dois filhos, afastou-se da vida lítero-boêmia-musical, cuidando dos meninos durante 14 anos e escrevendo crônicas e poemas.
Seu trabalho está em fóruns e sites de poesia, e mais recentemente em seus próprios sites – Cristal Poesia Prosa e Poema em Movimento – onde apresenta ainda outros poetas. Em dezembro de 1999, inaugura, com Claudia Letti, o site Letra de Corpo – Literatura e Arte, destinado a acolher obras de diversos poetas e escritores que quisessem participar e publicar seus trabalhos.
Participou da Crônica do Dia, site coletivo na Internet, como membro da Ártemis, Fórum de Mulheres, e fundou, em 1999, a Lista Literária Katarse.

* Publicações

Saciedade dos Poetas Vivos, Prazer/Volúpia (filha de Eros e Psique). 1999, da Blocos Editora, Rio de Janeiro.
I Antologia Nau Literária. 1999, Editora Komedi, Campinas.
Antologia dos Poetas Internautas. 1999, Editora Blocos, Rio de Janeiro.

* Letras de músicas (gravadas)

"Menino", parceria com Aécio Flávio, gravação Aécio Flávio, Polygram, 1980.
"Menino", parceria com Aécio Flávio, gravação Jane Duboc, Aycha, 1981.
"Tenta", em parceria com Irinéa Maria, gravação Rosa Maria, Pointer, 1982.
"Seu filho, seu amigo", parceria com Aécio Flávio, gravação Oscar Henriques, RCA, 1982.
"Quem tem telhado de vidro está sempre bronzeado", c/Aécio Flávio, gravação Célia, Pointer, 1983.
"Bonde pra não sei pra onde", c/Aécio Flávio, gravação Marcos Sabino, Polygram, 1983.

* Teatro

Adaptação para teatro da peça O Analista de Bagé (1982), de Luis Fernando Veríssimo, em parceria com o roteirista e teatrólogo Armando Costa.
Peça teatral Filhos da Pátria! (1983), com Armando Costa (inédita).



Poemas

Espelho

Quem é essa dona
que a imagem reflete
e que me contempla
no espelho do lago?
É fada? Demônio?
É viva? É morta?
Será que é miragem?
Concreta, palpável?
Ou inacessível?

Quem é essa peça
tão indefinível
de quem visto a pele
e habito a carcaça?